Sem tratamento para o animal infectado, prevenção é a melhor solução, orienta especialista da MSD Saúde Animal
Doença infectocontagiosa crônica, a brucelose é uma zoonose transmissível entre animais e seres humanos, e responsável por importantes prejuízos econômicos ao produtor, além de depreciação do valor social da propriedade. Isso porque, segundo a Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (Gedave), ela é responsável pela diminuição da produção de carne e leite, pelo aumento do intervalo entre partos e pela queda da taxa de natalidade da espécie. Ponto de atenção é que não há tratamento. Por isso, a prevenção, incluindo a revacinação do animal, é recomendada.
Estudo* realizado recentemente comparou a eficácia da vacinação e revacinação no controle da brucelose. Como resultado, o grupo que não foi revacinado teve incidência de 3,65%. Já os animais revacinados, além de não apresentarem novos casos, tiveram redução do intervalo entre parto e concepção e aumento da taxa de prenhez.
Dados científicos** mostram que, após a primeira dose, a cobertura vacinal do rebanho alcança níveis de 60% a 70%. Ou seja, a cada 100 fêmeas vacinadas, 30 ficam desprotegidas. Quando se aplica a segunda dose, essa cobertura sobre de 84% a 91%. Já na terceira dose, de 94% a 97% do rebanho estão protegidos contra a doença. Importante lembrar que a brucelose gera alarde devido aos seus impactos econômicos, produtivos e sanitários.
O médico-veterinário Henderson Ayres, gerente de produto da unidade de negócios de Ruminantes da MSD Saúde Animal, explica que o agente causador da brucelose bovina pode atingir o sistema reprodutor e, entre os sintomas principais, estão aborto no terço final da gestação e acometimento dos testículos de machos adultos, causando quadro de orquite e fibrose (inflamação seguida por perda de função), com consequentes perdas reprodutivas. Quanto aos bezerros, aqueles que não são abortados ou não adquirem a doença via intrauterina, podem se infectar no ambiente.
“É uma bactéria que se dirige para vários órgãos, como o sistema reprodutivo, gerando sérios prejuízos, como abortos, infertilidade, perda de produtividade e até mesmo morte precoce do animal, além dos impactos econômicos ao produtor”, afirma Henderson. O médico-veterinário também alerta que a principal forma de contágio é por meio do contato direto com secreções contaminadas, como a placenta. Já para os humanos, ocorre pela ingestão de alimentos contaminados, como alimentos lácteos não pasteurizados.
A brucelose é uma doença de notificação obrigatória ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e à Organização Mundial da Sanidade Animal (OMSA). Todos os animais diagnosticados como positivos devem ser sacrificados.
Prevenção
As formas de prevenção da doença nos animais e humanos envolvem utilizar os equipamentos de proteção individual para manipulação de vacinas, secreções e carcaça – uma vez que as pessoas acometidas normalmente têm contato direto com o animal, como vaqueiros, médicos-veterinários e vacinadores; vacinar fêmeas de 3 a 8 meses de idade (com as vacinas com a cepa B-19 ou cepa RB-51), com revacinação nas fêmeas bovinas acima de 8 meses (usando a RB-51); controlar a entrada de novos animais na fazenda; identificar animais positivos e removê-los do rebanho; além de não consumir leite e derivados não pasteurizados.
Especificamente quanto à vacinação, que já é obrigatória contra a brucelose – o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) foi instituído em 2001 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em todo o território nacional –, a vacina viva atenuada com cepa RB-51 se destaca por propiciar o controle e uma possível erradicação da doença na fazenda em curto período, justamente pela possibilidade de revacinação, sem resultados falsos positivos e com melhora dos índices produtivos e reprodutivos.
“Como diferencial da vacina com cepa RB-51, da MSD Saúde Animal, também está a possibilidade da realização de exames sorológicos a partir de oito meses de vida do animal, ou depois dos 24 meses (quando se usa a B-19), já que não leva à formação de anticorpos. Logo, isso traz a vantagem de poder realizar um exame simples de triagem e, caso ele dê positivo, saber que é de uma cepa silvestre e não da vacina”, diz Henderson.
O médico-veterinário ainda ressalta: “É um produto de carência muito curta, pois não devemos abater os animais vacinados para consumo humano antes de decorridas três semanas da aplicação do produto. Profissionais estão optando por essa vacina por poderem fazer exame em animais com menos de dois anos e, devido à possibilidade da segunda dose, por proteger mais os animais e diminuir as taxas de perdas gestacionais”.
A prevenção, por meio do uso de vacinas, é fundamental para controlar a disseminação da brucelose bovina, incluindo a implementação de boas práticas de manejo. Nesse contexto, a identificação animal também se destaca, já que permite ao produtor ter histórico de sanidade da fazenda e um controle mais assertivo do rebanho, gerindo quais animais foram vacinados e quais estão com alertas que precisam ser averiguados.
Referências:
*Drumond, J.; Fernandes; C., Viana, J.; Figueiredo, A.C.; Pereira, G.; Ayres, H.; Vieira, L.M.; Antônio, Denis; Vertenten, G.; Samartino, L.E. Effectiveness of brucellosis control using RB51 vaccine in adult beef cows. 32nd World Buiatrics Congress – Cancun; 2024.
**de Oliveira, M. M., Pereira, C. R., de Oliveira, I. R. C., Godfroid, J., Lage, A. P., & Dorneles, E. M. S. (2022). Efficacy of Brucella abortus S19 and RB51 vaccine strains: A systematic review and meta-analysis. Transboundary and Emerging Diseases, 69, e32–e51. https://doi.org/10.1111/tbed.14259