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Prova de eficiência alimentar da Associação Brasileira de Angus

*Por Carolina Silveira da Silva, engenheira agrônoma e mestre em zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS)

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – da sigla em inglês FAO – estima crescimento populacional de 21% até 2050. Para a entidade, o aumento exponencial no número de habitantes no planeta acarretará em maior demanda por alimentos, principalmente os de origem animal que podem ter acréscimo de até 70%.

O cenário exige que os sistemas de produção sejam mais eficientes, o qual implica na utilização de tecnologias que reduzam o uso de recursos financeiros, aumentando sua produtividade, uma vez que há intensificação da competitividade por área, recursos hídricos, alimentos de origem vegetal e produção de energia. Isso porque, ao aumentar a eficiência alimentar, é possível melhorar as margens de lucro, bem como reduzir os recursos naturais por unidade de carne produzida, sem maiores prejuízos ambientais.

Prova de eficiência alimentar Angus

A Prova de Eficiência Alimentar (PEA) é uma iniciativa da Associação Brasileira de Angus em parceria com instituições, que tem como objetivo avaliar animais quanto à eficiência na ingestão dos alimentos para conversão em energia. Para isso, a PEA é realizada em 3 etapas distintas: adaptação, prova de eficiência alimentar e mensuração de emissão de metano.

Durante a PEA, os animais são avaliados em consumo individual de alimentos, ganho de peso, emissão de metano, avaliação de ultrassonografia de carcaça e genotipagem. Também avaliado, o consumo alimentar residual (CAR) é uma medida para mensuração da eficiência alimentar dos animais e é definido como a diferença entre o consumo de matéria seca observado e o consumo estimado.

Otimização no uso de recursos financeiros

Quanto ao aspecto econômico, o animal mais eficiente testado na prova de eficiência alimentar da Associação Brasileira de Angus consumiu 1,799 kg de alimentação por dia a menos do que o esperado para o seu peso e ganho, se considerarmos um custo de R$ 5,07 a cada quilo/dieta por dia, isso representa uma economia de R$9,12/dia. Já o animal menos eficiente consumiu 1,202 quilos de matéria seca por dia a mais que o esperado, o que representa um incremento de R$6,09/dia. Considerando-se a diferença de consumo entre os dois animais, em matéria seca, de 2,82 quilos/dia, isto representa uma diferença nos gastos com alimentação de R$428,92/mês.

Animais que utilizam os alimentos de forma mais eficiente necessitam consumir menos para atingir o mesmo nível de produção e, dessa forma, são mais lucrativos e produzem mais alimentos por unidade de área. A seleção para eficiência alimentar pode, potencialmente, resultar em redução nos sistemas a pasto e na otimização do uso de pastagens pelos animais, diminuição de 10% nos custos de manutenção do efetivo de vacas e de 10 a 12% no consumo de ração, de 25 a 30% na emissão de metano, além de cerca de 15 a 20% na produção de dejetos.

Redução na emissão de metano

Produzido como subproduto da fermentação no rúmen dos bovinos, o metano é o principal gás de efeito estufa advindo do rebanho e contribui com aproximadamente 12% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. A produção desse gás é dependente da quantidade de alimento consumido, embora este efeito seja regulado pela digestibilidade  e outras características dos alimentos e dos animais.

A realização de pesquisas para a mensuração da emissão de metano pelos animais é de suma importância, pois visa entender melhor a variação entre indivíduos, bem como auxiliar no processo de seleção de animais que sejam eficientes tanto produtivamente quanto que possuam menores emissões de metano, tornando-se uma ferramenta dentro dos programas de melhoramento genético e indo ao encontro com a crescente demanda do consumidor por uma pecuária de carbono neutro.

A seleção para eficiência e seu potencial mitigador

Estudos mostraram que a seleção para eficiência alimentar tem o potencial de reduzir as emissões de metano em 15-30% quando comparamos animais eficientes (Elite) com ineficientes (Comercial) (NKRUMAH et al., 2006; HEGARTY et al., 2007). Basarab et al (2013), realizou um estudo visando prever a redução nas emissões totais de gases de efeito estufa após 25 anos de seleção para baixo CAR, usando em comparação um rebanho de referência de 120 vacas não selecionados para a medida. O modelo utilizado levou em conta CH4 entérico, CH4 e N2O dos dejetos, N2O de cultivos da agricultura para alimentação do rebanho e CO2 energético.

Após 25 anos de seleção para CAR, o rebanho eficiente teve emissões de GEE mais baixas em torno de 101 toneladas de equivalente de dióxido de carbono (CO2e)/ano ou 0,844 t CO2e/vaca/ano em comparação com a média do rebanho de vacas não selecionadas. Além disso, a eficiência do uso de nitrogênio alimentar e a pegada de carbono do rebanho eficiente foram melhoradas de 17% para 22% e 14%, respectivamente, em comparação ao rebanho referência (19,82 versus 23,06 kg CO2e/kg de carcaça). O autor ainda ressaltou que as estimativas de redução de GEE foram conservadoras, pois não foram considerados no modelo, por exemplo, melhoria de acurácia e a taxa de mudança genética resultante do uso da genômica.

A seleção de animais eficientes aliada a um manejo adequado das pastagens amplia ainda mais a capacidade e potencial mitigador da pecuária brasileira, uma vez que pastagens bem manejadas em sistemas rotacionados proporcionam uma redução de 64% na emissão de CH4/ha quando comparadas ao sistema convencional. O inverso também ocorre: o superpastejo pode acarretar num incremento nas emissões de CH4, que convertidos em CO2e atingem 500g CO2e/ha/dia (FILHO et al, 2023).